NO CASSINO GLOBAL - Filho da mais nobre estirpe lusitana a serviço da última ditadura militar, o pródigo filho ox herdou uma biblioteca geológica que lhe indicou onde garimpar tesouros, ainda que não em cofres, mas subterrâneos. Com alguns papéis, leia-se concessões de mineração, procurou sócios ávidos por fazer grandes fortunas a partir do “nada”, talvez inspirado em Bill Gates e outros exemplos da modernidade pós-industrial. Investimentos de “alto risco” viram investimento de “baixo risco” quando governos lhes dão sólidas garantias e créditos generosos. Assim, nosso filho pródigo iniciou sua epopéia rumo ao estrelato empresarial: informações estratégicas; papéis garantidos; apoios políticos; muitos, muitos advogados e um ingrediente tão básico quanto os anteriores - capitais voláteis (como fundos de pensão privados e estatais perseguindo outra nobre saga que é garantir sustento às viúvas do primeiro mundo) na busca de pouso seguro para converter-se em “investimentos de baixo risco” e render-lhes fruto$. Tarefa básica cumprida, o pródigo ox anuncia seus fantásticos projetos com hiper-estardalhaço pirotécnico, nada mais nada menos que super-portos, mega-estruturas, hiper-minas, super-serviços, megas, megas e outros megas... O delírio percorre as mais recônditas e obscuras salas de executivos do mundo todo. Alvoroço na banca e no poder, especialmente na capital federal, palco privilegiado da saga de ox.
NOME SEDUTOR - O nome comercial “EBX” carrega traços de sofisticação pós-modesnista, design marketeiro que o aproXima do seu personagem inspirador – o OX da Bolsa de Nova Iorque. Não por acaso, o espécime touro representa com sua postura agressiva, os mais secreto$ desejo$ dos especuladores em todo mundo, machos mui viris, unanimidade no cassino global. Para açucarar sua arquitetura empresarial, além de oportunos investimentos/promessa em etanol, outros setores levariam a marca d’água “X” do nosso afável ox, como as OSX, MMX, OGX, LLX, dentre outras porventura desconhecidas. Nunca antes “nesse país” se viu um império empresarial ser erguido verticalmente de forma completa e num passe de mágica, coisa jamais sonhada por um Henry Ford – da mineração, à energia, à logística, aos serviços navais, à banca, de baixo pra cima, de cima pra baixo. Não é pouca coisa nesses dias de feroz competitividade nos mercados globais. Para alguns, mão invisível do “livre mercado”.
A MAGIA DA INEVITABILIDADE - O que é perfeitamente evitável, diante da traquinagem capitalista se torna “inevitável”. Não há, portanto, como deter, segundo essa macabra lógica, os “saudáveis investimentos” que vêm em nosso socorro. Sob o mot do “desenvolvimento sustentável” e entoando o samba de uma nota só em trazer o “progresso” para nossa pobre gente, um circo providencial se arma para apresentar resoluta e ilimitada solidariedade ao esvoaçante capital a procura de pouso seguro, cuja expressão material e “humana” é nosso admirável ox. Começa uma chantagem de mão dupla: saio do Estado se não me derem apoio. De outra parte, se não apóias nossas campanhas, não faremos coro a teu projeto. Acordo selado, ox vai em frente.
O MELHOR MOMENTO É AGORA - Um cardume de puxa-sacos, de oportunistas, de lambe-lambes, de aliciadores, de intermediadores, de despachantes, se unem num piscar de olhos em torno de um intere$$e comum. Mas o que apregoam em comum: trazer, enfim, o admirável mundo novo - redenção para nossa gente. Embora todo “milagre” que apregoam possa ser feito de outras formas, a magia da inevitabilidade não permite as pessoas romperem os grilhões mentais que as prendem ao surrado discurso de ox, ainda que diante de tantas advertências, exemplos de sucessivos desastres no mundo todo, e até bem aqui perto de seus narizes. O capitalismo cassino se reproduz com uma sofisticada arquitetura de poder que combina em sua matriz de dominação um sem número de vetores objetivos e subjetivos. De um lado muita propina e generosas contribuições. De outro lado, discursos inflamados acenando promessas e garantias materiais e intangíveis. Difícil saber o que conta mais: a grana que azeita a engrenagem ou a mímica que oblitera a visão e enferruja as mentes. Ambas, caminham lado a lado em meio ao descontraído rebolation de campanha que já vem sendo tramada a tempo. A Prefeitura de Biguaçu-city, por exemplo, em insuspeito ato de bravura, alterou o zoneamento urbano na região especificamente para acomodar o estaleiro, anteriormente destinada à habitação. Por aqui tivemos a “moeda verde”, lá surgira uma “moeda azul”?
PRADARIA COM GPS - Fenômeno por ser ainda melhor estudado “nesse país” é verificar como a grande maioria dos parlamentares (não meus, por pressuposto), assim como autoridades executivas (e do judiciário também) portam-se diante de pomposos projetos empresariais como o pretendido por ox. O executivo (no poder executivo, digo) vira uma espécie de facilitador, ou dificultador, dependendo do afago insinuado. O parlamentar vira despachante do empresário para ajeitar as coisas junto ao executivo, seu “canal” privilegiado. E ambos procuram um juiz para convencê-lo que a lei pode ser interpretada de outra forma que não aquela como foi anteriormente. É o samba do criolo doido no qual a distorção de função é o lugar comum, tão comum quanto as disfunções e distorções que se constata na máquina pública, marca do nosso imexível Estado pré-capitalista vivendo na era do hiper-capitalismo global. O “sistema GPS” ajuda nosso ox a se achar na pradaria.
SELEÇÃO DE EFICIENTES DESPACHANTES - Em ato de nobre bravura e eivada de autêntico nacionalismo e espírito público, uma famosa senadora “pede a cabeça” do superintendente do ICMBio porque ele supostamente não teria participado de uma reunião e não explicou sua ausência a ela e ao capitão do time. Ato continuo, o time de despachantes empresariais tramita o processo para Brasília, sítio abençoado onde se concentram os “grão-despachantes” do país. Estes têm um chefe maior, que não apenas despacha sobre questões de Estado, mas articula mirabolantes acertos para a iniciativa privada. Foram as bênçãos e garantias institucionais dadas por Lula ao Primeiro-Ministro português, José Sócrates, que permitiram as negociações para que a Portugal Telecom (PT) vendesse para a Telefónica espanhola a participação na Vivo e virasse sócia da "supertele" Oi, conforme noticiado por toda grande mídia nacional e internacional no dia 29 de julho. Esse time, por outro lado, também toma iniciativas inusitadas, como a que articulou a criação de uma Comissão Mista Permanente sobre Mudanças Climáticas no Congresso (a casa dos “300 picaretas”, lembram?), da qual nossa astuta senadora é Presidenta (da tal comissão). Não parece estranho alguém zelar pela diminuição dos gases do efeito estufa e ao mesmo tempo zelar pelos interesses da indústria petrolífera e seus associadoX, cuja evolução vai na contramarcha do que se espera de todos os países do planeta em franco aquecimento? A indústria petrolífera é tão massivamente apoiada pelo atual governo que até mesmo a CEF (amável caixinha da nossa vida e da nossa casa) emprestou mais dinheiro no ano passado, pasmem, à voluptuosa petrobráX do que emprestou para obras de saneamento básico, notícia igualmente veiculada na grande mídia nos últimos dias. Toda essa trama deságua no mesmo emissário – o “desenvolvimento sustentável”, jargão propalado aos quatro ventos pelo empresariado, governo, mídia, o time de despachantes, e seus aliados de sempre.
MAQUIAGEM VERDE - O que é “indústria pesada”, vira na linguagem “apropriadamente verde” uma montadora de equipamentos off shore e correlatos, “modo chomskyano” de maquiagem lingüística para enganar a todos com mentiras, falácias, especulações, falsas expectativas e outras ferramentas próprias dos “think tanks” arregimentados para produzir a onda de apoio às empreitadas do paper-capital intensivo. Enquanto o Brasil exporta milhões de toneladas de minério e aço, ao mesmo tempo importa chapas de aço da China e da Coréia para construir navios aqui. Porque seria diferente em Biguaçu-city? Barcaças trazendo aço de onde? Aço que cruzou o mundo, arribou em porto próximo e novamente embarcou em uma “modesta barcaça”. Tremendamente energívora, esta indústria pesada compromete a demanda energética de toda a região metropolitana, fator que invoca a necessidade de mais geração energética, seja de gás, seja hídrica. Rombo inexorável no cofre estatal que deixará de investir em outras coisas como saúde, educação, etc, etc..., aparentemente secundárias, pois, afinal, o que conta hoje é um “bom emprego”. Pergunta oportuna: porque cargas de navio os estaleiros nacionais não constroem para companhias de navegação mercante que não a petrobráX, já que o país gasta R$ 6bi por ano em frete contratado a companhias do exterior? É dinheiro que não nos falta?
BUGUI BUGUI LE LE LE - Coisa adjeta é constatar como o time de despachantes empresariais trata o povo - de bobo, massa submissa de imbecis, bando de iletrados, incapaz de analisar os papéis dos atores em cena, dos prós e contras do projeto, das implicações sócio-ecológicas e, ainda por cima, desmemoriado. Chega às raias da humilhação assistir aos apelos de alguns despachantes mais entusiasmados e os representantes do grupo empresarial ofertando pirulitos sociais – creches, escolas, delegacias de polícia, etc, etc... As tais “compensações ambientais” não têm limites em fantasia. Plantar monocultura de pinus na serra ou bancar projetos sociais em comunidades carentes equivale a abrir uma freeway submarina na baía norte? Tal cálculo seria inspirado em algum “critério técnico”? Quando não há mais explicação razoável para contrapor a argumentos ecológicos, invariavelmente apelam para o tecno-lero-lero, forma de desqualificar os atores sociais e políticos presentes no processo de avaliação, e refúgio de pseudo-cientistas aprisionados por contracheques. Há algo, porém, que é certo e inevitável, coisa que este time conhece muito bem: logo mais algumas ONGs da “inevitabilidade” tentarão tirar uma lasquinha nas verbas destinadas a projetos sócio-ambientais, troco miúdo que grupos desse porte leiloam a rodo para massagear a opinião pública a seu favor, nada que compromete seus obesos lucros. Fecha-se o círculo vicioso da admirável saga percorrida pelo nosso poderoso “ox”, herói do nosso tempo.
A SAÍDA ELEGANTE - A forma como empreendimentos dessa natureza tem saído de cena no Brasil são dignos de filmes de pós-apocalipse holivudiano: terra arrasada; populações miseráveis largadas à própria sorte; imensurável coleção de destroços, ruínas e um mar de passivos tóxicos, ingredientes de cenários comuns por todos os cantos. Muitos anos mais tarde, talvez, depois que esses “passivos” já foram amalgamados pelo tempo, áreas contaminadas viram áreas de lazer nas periferias (embora normalmente ainda tóxicas), a custa de vultosos investimentos do poder público. Como sempre, lucro privatizado, custo socializado. Afinal, você também não é sócio de alguma empresa X ? Bastaria que algum poço em águas marítimas explodisse para suspender parte das vultosas encomendas da “nossa” eco-petrobráx, e imediatamente os investimentos programados para a construção da frota de petroleiros tomariam outro rumo. O risco de retorno do investimento o capitalista joga sobre as costas da população e do Estado, ambos tomados como reféns da chantagem sócio-econômica que só tem um único ganhador garantido – ele próprio. Terminada a saga, nosso ox saiu-se vencedor.
Já vi esse filme muitas vezes e não quero ver de novo. FORA OSX !!!!
Eco-amplexos convexos e impertinentes, alemão Gert Schinke
*BOI em inglês – lê-se “oks”. A palavra inglesa não porta a letra “s” de saciar, sacrílego, sagaz, sacripanta.
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